Pacientes que fizeram cirurgia bariátrica reforçam importância do acompanhamento psicológico: 'Tratamento é para o resto da vida'
16/12/2024
Especialistas na cirurgia e pacientes que passaram pelo procedimento conversaram com o g1 para explicar como é feito o acompanhamento psicológico antes, durante e após o procedimento.
Psicóloga Rosilene passou pelo processo de cirurgia bariátrica em Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Rosilene Aparecida de Souza Rocha tem diversos pacientes e os ajuda a cuidar da saúde mental.
A psicóloga, no entanto, lidava com problemas internos e de autoimagem.
Pesando 92 quilos e sofrendo com diversos problemas na coluna, hipertensão arterial e diabetes, tomou uma decisão: conseguir uma indicação médica para fazer uma cirurgia bariátrica.
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O processo para que chegasse "ao finalmente", no entanto, foi longo.
Ao contrário do que muitos disseram para a profissional, o procedimento não se resume apenas à mudança física, mas exige também um esforço mental - algo ao qual, mesmo sendo sua fonte de renda, também se fez necessário para ela.
"Mesmo sendo psicóloga, passei por todos os protocolos exigidos e, mesmo assim, não foi fácil.
Os cuidados com a saúde mental se fizeram necessários antes, durante e depois [do procedimento]", conta a moradora de Sorocaba (SP).
A cirurgia feita em Rosilene utilizou a técnica do Bypass gástrico, uma das mais realizadas no Brasil, na qual o estômago é reduzido consideravelmente, deixando o órgão com apenas 10% do tamanho original, por meio de grampeamento de parte dele.
Também é feito um desvio do estômago ao intestino inicial, o que diminui a quantidade de alimentos ingeridos.
Entenda mais sobre essa e outras técnicas para a cirurgia bariátrica clicando aqui.
O médico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica Celso Simoneti explica que a avaliação psicológica é essencial para casos como esses, justamente para que pacientes não criem expectativas que podem não ser atingidas no futuro.
"A avaliação psicológica tem que ajudar o paciente a entender o que ele pode esperar da cirurgia, sem que o indivíduo tenha uma visão fantasiosa de que o procedimento vai resolver todos os problemas que ele tem na vida.
A cirurgia vai trazer um benefício de perda de peso, melhora de qualidade de vida, mas não vai resolver todos os problemas", explica.
"Quando os pacientes se veem nessa situação, entram em desespero e em uma angústia por não conseguirem de fato aproveitar esse emagrecimento", complementa o cirurgião plástico e também membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Delmo Sakabe.
Como trabalha com cuidados da saúde mental, Rosilene priorizou as etapas e afirma que, caso elas não sejam seguidas, "a famosa 'lua de mel' com a bariátrica pode ser um grande problema".
"Infelizmente, é comum que os pacientes ignorem as questões psicológicas antes e após a cirurgia bariátrica, e esse descaso pode gerar danos irreversíveis.
Se a autoestima já está abalada pelas consequências da obesidade, o problema pode continuar no pós-cirúrgico", diz.
Psicóloga Rosilene Rocha também passou pelo processo de cirurgia bariátrica
Arquivo pessoal
Excesso de pele
Atualmente, Rosilene pesa 52 quilos, 40 quilos a menos do que pesava na época da cirurgia.
Ela afirma que o apoio psicológico foi fundamental, pois, em casos diferentes do dela, nos quais o paciente é diagnosticado com obesidade mórbida, uma grande perda de peso pode ocasionar problemas graves de autoimagem, causando danos sérios à saúde mental.
"A perda de 30, 40 quilos ou muito mais traz mudanças físicas e também psicológicas.
Muitas vezes, acontecem casos de a pessoa não se reconhecer mais.
O paciente relata levar um susto ao se olhar no espelho, pois sente que se tornou outra pessoa", explica a psicóloga.
"A pessoa vai ficar infeliz e até depressiva por agora ter um corpo magro, porém, com flacidez e excesso de pele.
Se antes o paciente não usava algumas roupas por estar acima do peso, agora vai se esconder em alguns tipos de roupas, para não expor o que dizem ser muito mais feio do que viam no espelho antes", finaliza.
O problema com o excesso de pele, no entanto, não afeta 100% dos pacientes.
Segundo o cirurgião plástico Delmo Sakabe, há casos em que a pele se retrai naturalmente, mas, quando isso não acontece, é preciso uma nova intervenção cirúrgica.
Para esse novo procedimento, no entanto, é necessário esperar dois anos e os pacientes devem manter o mesmo peso por pelo menos seis meses.
Para o resto da vida
Antes e depois de Elaine Cristina Marum do Amaral
Arquivo pessoal
Se para alguns pacientes o cuidado com a saúde mental é deixado de lado, para a comerciante Elaine Cristina, de 46 anos, o acompanhamento foi essencial para lidar com a perda de 40 quilos após a cirurgia bariátrica, feita em 2014.
Segundo a moradora de Piedade (SP), foi o acompanhamento psicológico que a ajudou a conseguir manter os hábitos saudáveis e lidar com as mudanças na autoestima após a cirurgia, feita por indicação médica.
"Tem que fazer a cirurgia com a cabeça preparada para comer uma quantia [de alimentos] reduzida.
Alguns alimentos também não são bem aceitos, por isso a preparação psicológica é muito importante, já que o tratamento é para o resto da vida", afirma.
O problema que mais afetou Elaine não foi a mudança na alimentação, mas, sim, o excesso de pele, que dificultava a higienização dos locais e gerava inseguranças no corpo.
Com a rápida perda de peso ocasionada pela cirurgia, Elaine conta que começou a se sentir insegura por conta das sobras de pele.
"Eu não usava biquíni, nem roupas claras.
Não tirava fotos, não socializava e, até mesmo, tinha vergonha de ir à academia.
Apesar do corpo magro, eu tinha muita vergonha do excesso de pele", desabafa.
Elaine Cristina Marum do Amaral perdeu 40 quilos após a cirurgia bariátrica
Arquivo pessoal
Elaine fez o procedimento com o especialista Delmo Sakabe, que explica que as áreas mais operadas para a remoção do excesso de pele são o abdômen e as mamas, porém, houve um grande aumento na procura por cirurgias nos braços e coxas também.
"As cirurgias bariátricas trazem alterações importantes no funcionamento e no metabolismo do corpo, por isso, elas são cruciais para perda de peso e redução do risco cardiovasculares.
Porém, o procedimento causa diversos conflitos com a recuperação da remoção da pele", ressalta.
Critérios para a cirurgia
O especialista Celso Augusto explica que existem alguns critérios estabelecidos na portaria do Conselho Federal de Medicina para que o paciente esteja dentro de um grupo passível de indicação para a cirurgia bariátrica.
"Existe um conceito relativamente novo que chamamos de 'cirurgia metabólica', que significa que o problema maior não é o peso, mas, sim, as doenças associadas.
Porém, de certa forma, todos os pacientes que estão com obesidade grau dois ou três e que possuem doenças são elegíveis", explica.
O profissional ainda pontua que é necessário fazer a avaliação com um endocrinologista para que o médico especialista faça a indicação da cirurgia.
Após a avaliação do endócrino, o paciente é encaminhado para o médico cirurgião, que novamente fará uma avaliação para saber se ele está apto ou não à cirurgia.
"O cirurgião avalia se o paciente não tem nenhuma limitação para a realização do procedimento, seja de saúde física ou mental, não tratados, como, por exemplo, déficits cognitivos ou doenças mentais, como esquizofrenia", diz.
Apesar dos riscos, ponderações e esforços no pré e pós-operatório, quem passou pelo procedimento leva gratidão e ressalta o processo de autoaceitação.
"Costumo dizer que existe uma Elaine antes da remoção do excesso de pele, e a atual depois de ter feito a cirurgia.
Hoje em dia, qualquer roupa que eu uso fica boa.
Me olhar no espelho e me ver com 40 quilos a menos e sem toda a pele é muito gratificante e satisfatório", comemora.
*Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida
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