O que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso do PM que arremessou homem de ponte durante abordagem em SP
03/12/2024
Vítima de 25 anos foi ajudada por moradores do entorno e sobreviveu.
Treze policiais foram afastados das ruas e estão sendo investigados pela Corregedoria da PM.
PM joga homem de ponte após abordagem em SP
Treze policiais militares foram afastados das ruas nesta terça-feira (3) por suspeita de envolvimento direto ou indireto com o caso de um homem que foi arremessado de uma ponte por um PM durante uma abordagem na Zona Sul de São Paulo.
Um vídeo enviado à TV Globo flagrou o momento da abordagem.
Nas imagens, é possível ver que um policial levanta uma moto que está no chão.
Um segundo e um terceiro policial se aproximam.
Depois, o primeiro PM encosta a moto perto da ponte.
Um quarto policial chega segurando o homem pela camiseta azul, que seria o motociclista abordado.
Ele se aproxima da beirada da ponte e o arremessa no córrego (veja acima).
Nenhum dos colegas faz nada.
Veja o que se sabe e o que falta esclarecer:
O que aconteceu?
Qual foi o motivo da abordagem?
Quem é a vítima?
O homem foi encontrado após a queda?
Onde trabalham os policias militares envolvidos na abordagem?
Quem é o PM que jogou o homem da ponte?
Policiais militares foram afastados?
O que disseram as autoridades?
O caso está sendo investigado?
1.
O que aconteceu?
O caso ocorreu na noite de domingo (1).
Policiais militares deram ordem de parada a duas pessoas que trafegavam em uma moto.
Os rapazes fugiram, e os PMs, então, iniciaram uma perseguição que terminou com a captura da dupla na Rua Padre Antônio de Gouveia, Vila Clara.
Durante a abordagem, um dos homens que estavam na moto foi arremessado de uma ponte de três metros de altura no Córrego Cordeiro.
Vídeo mostra momento em que PM joga homem de ponte durante abordagem em SP
Reprodução/TV Globo
2.
Qual foi o motivo da abordagem?
Não foi informado oficialmente o motivo da abordagem aos dois homens que estavam em uma moto.
Contudo, moradores relataram à TV Globo que os PMs estavam tentando encerrar o baile funk.
"Eles estavam tentando combater o baile funk.
Vieram, invadiram o baile funk.
Amenizou a quantidade de pessoas na rua, mas estava todo mundo na avenida, e aí foi a hora que teve o ocorrido", afirmou uma testemunha, que prefere não se identificar.
3.
Quem é a vítima?
Em entrevista ao Jornal Nacional, o pai do rapaz disse que ele se chama Marcelo, tem 25 anos e trabalha como entregador.
O pai ainda relatou que o filho não tem passagem pela polícia e questionou a ação da PM.
"Trabalhador, menino que sempre correu atrás do que é dele.
Não tem envolvimento, passagem, não tem nada.
Queria a explicação desse policial e o porquê ele fez isso", disse Antônio Donizete do Amaral.
4.
Como está o homem após a queda?
Moradores da região disseram à TV Globo que o homem sobreviveu à queda e foi ajudado por pessoas em situação de rua que estavam no entorno.
Ele foi levado a um hospital e, na sequência, teve alta.
A Corregedoria da PM apurou até o momento que um dos homens abordados pelos policiais chegou a ser levado para a delegacia.
Ele é, neste momento, a principal testemunha da investigação.
Aos investigadores, essa testemunha afirmou que o homem jogado da ponte estava vivo.
Os integrantes da Corregedoria estão tentando localizá-lo para ouvi-lo oficialmente.
5.
Onde trabalham os policias militares envolvidos na abordagem?
De acordo com a Polícia Militar, os agentes são do 24º BPM de Diadema, na Grande São Paulo.
6.
Quem é o PM que jogou o homem da ponte?
O agente que arremessou o homem é da Rondas Ostensivas com Apoio de Motos (Rocam).
Detalhes em relação ao PM, como nome e há quanto tempo ele está na corporação, não foram divulgados até a última atualização desta reportagem.
7.
Policiais militares foram afastados?
PM joga homem de ponte em São Paulo
A Corregedoria da Polícia Militar afastou das ruas 13 policiais envolvidos direta ou indiretamente no episódio.
Segundo fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP), dois sargentos e 11 cabos e soldados estão sendo ouvidos sobre o caso e ficarão afastados das ruas até o fim das investigações.
Todos os PMs usavam câmeras corporais e gravaram a abordagem.
Essas imagens serão usadas pelos investigadores para entender os detalhes da ocorrência.
Até a última atualização desta reportagem, não houve pedido de prisão para nenhum dos policiais envolvidos.
8.
O que disseram as autoridades?
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse, em uma rede social, que o policial militar que "atira pelas costas" ou "chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte" não está à altura de usar farda.
Disse ainda que o caso será investigado e "rigorosamente" punido.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), também criticou a ação do policial militar.
"Anos de legado da PM não podem ser manchados por condutas antiprofissionais.
Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro.
Pelos bons policiais que não devem carregar fardo de irresponsabilidade de alguns, haverá severa punição", escreveu, em uma rede social, mencionando um segundo ato de violência policial na capital paulista, em que um PM que executou um jovem negro em frente a um mercado, atirando pelas costas da vítima.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa – principal representante do Ministério Público paulista, também emitiu uma nota pública de repúdio à cena, e disse que as imagens são “estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis”.
Ele afirmou que já designou que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (Gaesp) integre as investigações a fim de “punir exemplarmente” os policiais envolvidos na abordagem.
“Estarrecedoras e absolutamente inadmissíveis! Não há outra forma de classificar as imagens do momento no qual um policial militar atira um homem do alto de uma ponte, nesta segunda-feira.
Pelo registro divulgado pela imprensa, fica evidente que o suspeito já estava dominado pelos agentes de segurança, que tinham o dever funcional de conduzi-lo, intacto, a um distrito policial para que a ocorrência fosse lavrada”, disse Paulo Sérgio de Oliveira e Costa.
E acrescentou: "Somente dentro dos limites da lei se faz segurança pública, nunca fora deles.
Assim, esta Procuradoria-Geral de Justiça determinará, ainda nesta terça-feira (3/12), que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (GAESP) associe-se ao promotor natural do caso para que o MPSP envide todos os esforços no sentido de punir exemplarmente, ao fim da persecução penal, os responsáveis por uma intervenção policial que está muito longe de tranquilizar a população".
Antes da manifestação do secretário nas redes sociais, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) tinha condenado, em nota, o caso, afirmando que "a Polícia Militar repudia veementemente a conduta ilegal adotada pelos agentes públicos no vídeo mostrado".
Segundo a SSP, "assim que tomou conhecimento das imagens, a PM instaurou um inquérito policial militar (IPM) para apurar os fatos e responsabilizar os policiais envolvidos nessa ação inaceitável".
"Todos os policiais que estavam em serviço na área identificada foram convocados e já estão sendo ouvidos.
A instituição reitera seu compromisso com a legalidade, sem tolerar qualquer desvio de conduta", finaliza o comunicado.
9.
O caso está sendo investigado?
O caso está sendo investigado pela Corregedoria da PM.
A PM afirma que, assim que houver mais detalhes sobre o caso, ele será encaminhado às esferas competentes.