Policial que executou homem negro pelas costas em frente a mercado na Zona Sul de SP é afastado das funções, diz SSP
02/12/2024
Acusado de roubar produtos de limpeza, Gabriel Renan da Silva Soares foi morto no estacionamento do Oxxo, na Zona Sul da capital, em 3 de novembro.
Policial alega que o rapaz estava armado e diz que atirou em legítima defesa.
Jovem é executado no estacionamento de mercado após furtar pacotes de sabão
Reprodução
O policial militar Vinicius de Lima Britto, que executou Gabriel Renan da Silva Soares com tiros pelas costas em frente ao mercado Oxxo em São Paulo, foi afastado de suas funções, informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) nesta segunda-feira (2).
A execução do jovem negro, acusado de roubar materiais de limpeza, aconteceu em 3 de novembro na unidade localizada na Avenida Cupecê, no Jardim Prudência, na Zona Sul da capital, e foi registrada por uma câmera de segurança (veja abaixo).
O PM foi afastado somente um mês após o crime.
Em nota, a SSP informou que "o policial militar está afastado das atividades operacionais.
O caso segue sob investigação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
As imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos".
No comunicado, a pasta afirma também que "familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado.
A Polícia Militar acompanha as investigações, prestando apoio à Polícia Civil.
Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição".
Até a última atualização desta reportagem, a defesa de Vinicius não foi localizada.
Jovem negro de 26 anos é executado por policial militar de folga em mercado de SP
Pelas imagens, obtidas pelo g1, Gabriel vestia um moletom vermelho com capuz, quando entrou no mercado, às 22h44.
Em seguida, ele andou até a seção de limpeza, onde pegou quatro produtos.
Na fuga, ele escorregou num pedaço de papelão na porta do estabelecimento e caiu no chão do estacionamento.
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O policial estava no caixa pagando pelas compras, quando percebeu a ação.
Vinicius sacou a arma e atirou diversas vezes pelas costas de Gabriel, que tentava fugir.
O jovem morreu no chão do estacionamento.
Segundo o boletim de ocorrência, foram encontradas 11 perfurações pelo corpo dele.
No depoimento na delegacia, o PM disse que Gabriel estava armado e com a mão no bolso do moletom, razão pela qual ele atirou.
Vinicius alegou que agiu em legítima defesa (leia mais abaixo).
"Está comprovado que a gente estava certo e ele mentiu em depoimento, porque ele diz que apresentou voz de prisão.
Porém, quando ele [Gabriel] escorrega, ele já saiu atirando [...] Ele é um assassino", afirma a advogada da família, Fatima Taddeo.
'Um menino doce que amava a família'
A mãe do jovem, Silvia Aparecida da Silva, disse ao g1 que o filho era usuário de drogas e lutava contra o vício há alguns anos.
Seu aniversário seria no dia 7 de novembro, e ele completaria 27 anos.
"Gabriel era um menino doce, meigo e sonhador.
Me falava que ia dar uma casa.
Ele só tinha 26 anos.
Uma vida inteira pela frente [...] Eu estou destruída por dentro.
Tenho problema no coração, uso marca-passo.
Estou sofrendo muito, é uma dor que não tem como explicar.
Só sei que dói ter perdido meu filho", desabafou Silvia.
O jovem morava com a mãe e os dois irmãos próximo ao mercado Oxxo.
Ela percebeu que Gabriel não havia voltado para casa por volta das 5h de segunda (4).
Gabriel foi morto a tiros por PM em frente a mercado na Zona Sul de SP
Reprodução/Arquivo pessoal
O irmão de Gabriel contou à mãe que passou pelo mercado por volta da meia-noite e viu uma pessoa morta no chão coberta por uma lona: "A bota era igual a do meu irmão".
Silvia chegou a ir trabalhar, porém, como Gabriel não apareceu, decidiu procurá-lo pelo bairro com o ex-marido.
Ao chegar ao mercado, um funcionário informou aos pais que "mataram um nóia".
Foi neste momento que Silvia e Antônio descobriram a morte do filho.
“Foi muito covarde.
Podia ter levado preso.
Existe cadeia para isso.
É o procedimento.
Porque você ter uma arma Glock .40, um tiro só já faz um estrago", disse Silvia.
Para a família, as versões apresentadas pelo policial militar e pelo atendente do mercado são contraditórias.
Eles afirmam que Gabriel não fugiu após ser baleado e ainda se voltou contra o agente.
“Se você tomar um tiro, qual é a sua reação? Sair correndo, não voltar para o local em que o cara está atirando”, afirma o pai.
Fátima Taddeo também questiona a quantidade de tiros disparados: "A vida dele estava valendo uma caixa de sabão.
Um policial preparado precisou de oito tiros para evitar que roubasse essa caixa de sabão”.
“Quando ele tem tiros no antebraço, está mais do que provado que ele estava se defendendo.
O cara não precisa de todos esses tiros para perceber que ele não estava armado.
Ele precisava falar isso para justificar que executou uma pessoa."
"O argumento de que era para se defender de uma injusta agressão — a chamada legítima defesa — a polícia usa quando mata um menor negro na periferia.
Transformaram uma tentativa de furto numa tentativa de roubo para dizer que o policial estava se defendendo, quando ele estava executando mais um moleque preto da periferia", argumentou a advogada.
Versão PM e funcionário
Em depoimento, o PM Vinicius relatou que estava fazendo compras no mercado, quando viu Gabriel roubando alguns produtos.
Ao questioná-lo, o jovem afirmou que estava armado e colocou a mão dentro da blusa de moletom.
"O que obrigou Vinicius a efetuar disparos contra Gabriel, que veio a óbito no local”, descreve o boletim de ocorrência, ao qual o g1 teve acesso.
O policial carregava uma pistola Glock .40.
Já o funcionário do mercado afirmou que os tiros foram disparados do lado de fora.
Ele contou que estava atendendo o policial, quando Gabriel entrou e foi até a seção de limpeza.
Ele pegou de quatro a cinco produtos e tentou correr, porém, caiu no chão do estacionamento após escorregar em alguns papelões.
Em seguida, o PM foi para fora do estabelecimento ver o que estava acontecendo.
Segundo a versão do atendente, Gabriel se levantou e colocou a mão no bolso da blusa “fazendo menção de estar armado” e, em reação, Vinicius atirou.
Caso aconteceu na Avenida Cupecê, na Zona Sul de São Paulo
Reprodução/Google Street View
O jovem teria andado em direção à calçada, porém desistiu e retornou ainda com a mão na blusa, falando: "Não mexe comigo que estou armado, não quero nada do que é seu".
O policial, então, atirou novamente.
De acordo com o boletim de ocorrência, foram encontradas 11 perfurações pelo corpo de Gabriel: três no tórax, duas na mão esquerda, uma no antebraço esquerdo, uma na orelha direita, três no antebraço direito e uma no rosto.
O Oxxo informou que o PM não é funcionário do mercado.
Além disso, afirmou que "pauta suas ações no respeito às pessoas e lamenta profundamente o ocorrido na noite de 3 de novembro, na unidade da Avenida Cupecê, entre dois clientes.
A rede informa que seus colaboradores acionaram imediatamente as autoridades e que as imagens do sistema de segurança estão à disposição dos órgãos competentes a fim de contribuir com a investigação".
O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial, resistência e tentativa de roubo no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Um inquérito policial também foi instaurado.
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