Pesquisadores da USP identificam gene que pode proteger contra a Covid-19
02/12/2024
Foram analisados 86 casais e, em seis deles, um dos cônjuges não apresentou nenhum sintoma da doença mesmo em contato direto com o parceiro infectado.
Vírus da Covid-19
Peter Linforth/Pixabay
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram identificar o gene que pode ser o responsável por proteger o organismo contra a Covid -19.
O resultado do estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology e divulgado pela Agência Fapesp nesta segunda-feira (2).
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Na pesquisa, foi analisado o material genético de 86 casais ao longo da pandemia.
Em apenas seis casos, um dos cônjuges não apresentou nenhum sintoma da doença mesmo em contato direto com o parceiro infectado pelo SARS-CoV-2.
A partir do estudo das células do sangue desses casais, chamados de sorodiscordantes, foi constatado que quem ficou resistente ao vírus tinha uma expressão (ativação) aumentada do gene IFIT3 (sigla em inglês para proteína induzida por interferon com repetições de tetratricoptídeo 3) em comparação ao parceiro.
Curiosamente, todas as pessoas não infectadas eram mulheres, mas não há comprovação de que o sexo tenha relação com o desenvolvimento de resistência.
Segundo o pesquisador Mateus Vidigal, primeiro autor do artigo, o IFIT3 já é relacionado à proteção contra outras doenças virais, como dengue e hepatite B.
Em nosso trabalho, conseguimos, pela primeira vez, provar esse efeito protetor para além da teoria, pois é muito improvável que as seis mulheres não tenham sido expostas ao SARS-CoV-2 numa condição em que dividiram ambientes e cuidaram dos maridos infectados.
De acordo com Vidigal, o gene atua impossibilitando a replicação do RNA do vírus.
"O vírus invade a célula, porém, todo aquele processo de se replicar para romper a membrana celular e invadir o maior número possível de outras células é interrompido logo no começo.
A proteína IFIT3 se ‘gruda’ no RNA viral, impossibilitando sua replicação.
Ou seja, não é que essas mulheres não tenham sido infectadas.
Elas foram, mas o vírus mal se multiplicou dentro de suas células e, por isso, elas não tiveram a doença”, disse.
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O estudo
Durante a análise dos casais, parte deles se reinfectou e, mesmo assim, as seis mulheres não contraíram a doença.
Para entender os fatores que levaram a isso, os pesquisadores analisaram amostras de sangue dos pares em duas ocasiões: em 2020, após a primeira infecção do homem, e em 2022, após a segunda infecção.
"Com esse experimento, pudemos notar que as células das mulheres resistentes apresentavam expressão aumentada do gene IFIT3 em comparação tanto com os maridos quanto com um grupo de cinco mulheres que desenvolveram Covid-19 [grupo-controle]", explicou o autor.
Os resultados da pesquisa voltam os olhos da ciência para o gene IFIT3 como uma potencial forma de tratamento para a Covid-19 e outras doenças virais.
“Mas ainda precisamos nos aprofundar na biologia da resistência, entendendo quais mecanismos levam à maior expressão do IFIT3, por exemplo.
Portanto, apesar de termos esse achado importante, o nosso estudo continua ainda com mais perguntas", afirmou Edecio Cunha Neto, professor da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador do Instituto do Coração (InCor).
O estudo foi conduzido no no Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fapesp sediado na USP.
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