Pesquisa inédita revela como brasileiros enxergam questões envolvendo a conservação da Mata Atlântica
16/12/2024
Coordenado pelo CEMAVE, ICMBio e Observatório de Aves da Mantiqueira, trabalho dará diretrizes para futuras ações em prol da natureza.
Crejoá é uma das espécies de aves ameaçadas da Mata Atlântica
Jaílson Souza
Todos os dias são divulgadas notícias sobre meio ambiente, envolvendo desde questões históricas, mudanças climáticas, impactos, e até possíveis soluções para mitigar problemas com o futuro do planeta, mas você já parou pra pensar como é de fato a relação das pessoas com as questões ambientais? Uma pesquisa inédita realizada no domínio Mata Atlântica revelou dados e informações curiosas sobre o vínculo da sociedade com ações de conservação.
O trabalho realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE) e Observatório de Aves da Mantiqueira surgiu como uma demanda dentro do segundo ciclo de trabalho do Plano De Ação Nacional para Conservação das Aves da Mata Atlântica (PAN), e acabou ganhando escala e se tornando um projeto maior e importante para dar diretrizes a futura ações em prol da natureza.
Relatório de Percepção Socioambiental das Aves da Mata Atlântica
Divulgação
“Foi uma pesquisa que cresceu muito em dimensão do que tínhamos proposto inicialmente, a gente percebeu que era uma demanda antiga, e que precisávamos dessa linha de base para responder diversas questões em pauta.
A pesquisa de percepção é muito desafiadora, pois precisamos tentar captar a opinião das mais diversas pessoas sobre muitos temas e de forma sucinta e rápida.
Nós começamos a elaboração no final do ano passado e a execução foi feita ao longo de 2024 com ajuda de diversos colaboradores”, conta Luiza Figueira, diretora do Observatório de Aves da Mantiqueira.
A pesquisa surgiu para medir a efetividade das ações do PAN e nortear planos futuros
A Mata Atlântica é o quintal de 72% dos brasileiros
45% das aves ameaçadas do Brasil vivem na Mata Atlântica, considerado um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta
A pesquisa contou com a participação de moradores de 617 municípios distribuídos em 16 estados da Mata Atlântica – 25,8% (Rio de Janeiro), 22,8% (São Paulo), 14,3% (Paraíba), 37% (outros)
A Pesquisa de Percepção Socioambiental do Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Mata Atlântica foi realizada de forma online e também presencial com a participação de voluntários que executaram as entrevistas.
As abordagens feitas foram baseadas a partir de quatro temáticas que já fazem parte dos objetivos do PAN: perda de habitat, caça e tráfico ilegal de animais silvestres, introdução de espécies exóticas e soltura de animais na natureza.
Entre os números apresentados como resultado dessa iniciativa inédita destaque para o fato de 90% da população reconhecer a relevância de preservar áreas protegidas e promover o reflorestamento, identificando que a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica é essencial para o futuro.
Porém, aliada a esse resultado, foi detectado um primeiro problema a ser solucionado em novas ações.
Parte das pesquisas foram feitas presencialmente com entrevistas feitas por voluntários
Divulgação
“O principal resultado dessa pesquisa é que a sociedade não precisa mais ficar recebendo a mensagem de que proteger e conservar a biodiversidade é importante, isso já está fixo na cabeça de todo mundo, e nos nossos resultados está muito presente.
Porém existe uma ruptura entre saber que conservar é importante e de fato entender o que e como conservar.
A gente percebeu que as pessoas não sabem o que precisa ser feito e como podem ajudar a conservar de fato.
Quando a gente fala de problemas ambientais, o tema ainda está muito genérico na percepção da sociedade”, aponta Luiza.
Além disso, outra questão detectada com esse trabalho é que 54% não sabiam o que são os PANS.
“As pessoas acham que deve ter um investimento público para a preservação da biodiversidade, mas não existe um conhecimento popular do que já está sendo feito.
Não acreditamos que isso reflete necessariamente a um desinteresse da sociedade, mas sim nossa limitação em comunicar o que está sendo feito.
Esse papel da comunicação, de dialogar com a sociedade é fundamental.
Já estamos trabalhando na melhoria dessas divulgações, mas acho válido destacar que, apesar do PAN ser gerenciado e proposto pelo ICMBio e coordenado por um agente ambiental do mesmo, toda a rede de colaboradores é voluntária, então faltam pernas para executar tudo o que desejamos e identificamos ser ideal”, acrescenta.
Outros números relevantes do relatório mostram que 96% dos entrevistados enxergam a caça e o tráfico de animais silvestres como graves ameaças, porém 85% considera que o combate a essas práticas pelo poder público tem sido ineficaz.
Espécie exclusiva da Mata Atlântica, tesourinha-da-mata ocorre em florestas preservadas e é difícil de ser encontrada
Estevão Santos
Já em relação à soltura dos animais apreendidos, 86% apoiam a reintegração à natureza, desde que a ação seja realizada de forma ética e criteriosa, e 41% demonstraram preocupação em relação ao risco à vida do animal a ser reintroduzido no ambiente natural, e um número ainda menor reconhecem dois aspectos importantes envolvidos na recondução de animais à natureza: Risco de vida para os demais animais à saúde das pessoas que ocupam a área em que o animal está sendo devolvido.
Sobre animais exóticos, ou seja, que não são oriundos na área de referência, 80% afirmaram que conhecem o termo, porém apenas 24% destes sabiam responder corretamente o que são as espécies exóticas.
“Eu vejo esse resultado de duas formas: a primeira é a necessidade desse reforço na nossa comunicação sobre todos os esforços que já são realizados para proteger, conservar e restaurar a biodiversidade.
Reforçar e melhor direcionar a comunicação para informar a sociedade sobre quais são as ameaças, e quais as possíveis soluções e ações de mitigação para tais problemas".
"A segunda é que esse resultado também respalda a proposta de direcionar mais investimento para os esforços sendo executados e proposto para a preservação ambiental.
Estamos em um país gigantesco, com uma das maiores biodiversidades do planeta e com problemas socioambientais estruturais e diversos.
Precisamos mesmo direcionar recursos em uma escala muito grande para que a gente vença esses problemas.
A gente pode fazer mais e a gente precisa fazer mais”, finaliza.
Com base nos resultados as equipes que fazem parte do PAN das Aves da Mata Atlântica irão desenvolver ações para ampliar o conhecimento e envolvimento da população.
Em 2026 e 2028 a pesquisa será realizada novamente com o objetivo de detectar se houve mudança comportamental da população diante dos problemas detectados neste primeiro relatório.
Mais de 70% da população brasileira vive no bioma Mata Atlântica
Observatório de Aves da Mantiqueira (OAMa)
O que é o PAN?
O Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves da Mata Atlântica é uma estratégia coordenada pelo ICMBio e parceiros com o objetivo de conservar 114 espécies ameaçadas de extinção, restaurar habitats e reduzir pressões sobre a biodiversidade.
Conheça mais sobre as ações aqui.
Acesse os resultados da pesquisa
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