Maia diz que vídeo divulgado por Bolsonaro é 'agressivo' e gera 'conflitos desnecessários'
30/10/2019
Em entrevista ao programa 'Em Ponto', da GloboNews, o presidente da Câmara afirmou ainda que o vídeo divulgado na rede social de Bolsonaro 'tira o foco do que é principal'.
Rodrigo Maia comenta sobre vídeo divulgado pelo presidente Bolsonaro
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quarta-feira (30) em entrevista ao programa "Em Ponto", da GloboNews, que o vídeo divulgado em rede social do presidente da República, Jair Bolsonaro, é "agressivo" e gera "conflitos desnecessários".
O vídeo compara Bolsonaro a um leão sendo perseguido por hienas com símbolos que representam instituições vistas como rivais.
Por exemplo: partidos políticos (PT, PSDB, PDT, PSL), o Supremo Tribunal Federal (STF), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e veículos de imprensa.
O vídeo foi publicado e apagado no mesmo dia.
"Eu acho que esses vídeos, eles apenas nos tiram do foco do que é principal e nos colocam numa agenda secundária, e geram conflitos desnecessários do Poder Executivo com o Supremo e também com os partidos políticos", declarou o presidente da Câmara.
Rodrigo Maia disse, ainda, que esse tipo de vídeo divide mais o país e restringe a capacidade de diálogo do próprio presidente.
"Apenas dividem mais o Brasil, restringem inclusive a capacidade de diálogo do próprio presidente na hora que ele ataca de forma generalizada a todos nessa relação do bem contra o mal – 'eu sou o bem e vocês são são o mal, vocês querem me atacar, eu quero fazer e vocês não querem me deixar' – não é nada disso.
Tanto o Congresso quanto o Supremo, principalmente os partidos políticos que hoje estão no Congresso Nacional, tem dado uma demonstração de responsabilidade, cada um com a sua agenda", afirmou o presidente da Câmara.
Bolsonaro pede desculpas por vídeo publicado na conta dele nas redes sociais
Reação
Nesta terça-feira (29), durante viagem a Riade, na Arábia Saudita, Bolsonaro disse que foi um "erro" publicar o vídeo.
O presidente pediu desculpas (veja no vídeo acima).
"Me desculpo publicamente ao STF, a quem porventura ficou ofendido", afirmou ao jornal "O Estado de S.
Paulo".
O ministro mais antigo do STF, Celso de Mello, reagiu e divulgou nota sobre o vídeo.
Para Mello, a postagem mostra que o "atrevimento presidencial parece não encontrar limites".
Agenda da Câmara
Rodrigo Maia destacou a reforma tributária na agenda da Câmara.
A proposta do governo deve ser enviada ao Congresso Nacional nas próximas semanas e, simultaneamente, a Câmara dos Deputados e o Senado já discutem projetos de reforma tributária.
"Não tem nenhuma outra reforma que seja mais importante que a reforma tributária", afirmou Maia.
"O sistema tributário brasileiro ele é distorcido, alguns setores pagam muito impostos e outros pagam pouco.
É hora de equilibrar isso sem aumentar a carga tributária.
É hora de reorganizar o sistema tributário, primeiro com a sua simplificação", disse o presidente da Câmara.
Segundo o secretário de Avaliação e Planejamento do Ministério da Economia, Alexandre Manoel, a proposta de reforma tributária do governo vai prever a revisão até 2022 de cerca de R$ 100 bilhões concedidos por meio de subsídios (renúncias fiscais).
Segunda instância
Questionado se há ativismo judicial do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento sobre prisão após condenação em segunda instância, Maia negou ativismo da Corte e suposta leniência do Congresso em relação ao tema.
O STF deve retomar no dia 7 de novembro o julgamento que vai definir o momento em que uma pessoa condenada poderá ser presa: se após condenação em segunda instância, com a execução provisória da sentença, ou se somente após o chamado trânsito em julgado, quando estiverem esgotadas todas as possibilidades de recurso (veja no vídeo abaixo).
"Não há nem ativismo do Supremo neste tema e nem leniência do Congresso.
O que há é uma vontade de desgastar o parlamento", declarou.
O julgamento foi interrompido na semana passada, com quatro votos a favor e três contra a prisão após condenação em segunda instância.
Faltam os votos de Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli.
"Eu não acho que há ativismo do Supremo nesse tema.
O que está escrito na Constituição está sendo debatido de forma transparente e correta por cada um dos ministros do Supremo, cada um com a sua posição.
O que cabe ao parlamento é aguardar o julgamento do Supremo."
STF marca data da continuação do julgamento sobre segunda instância