Em 1º pronunciamento após queda, Assad diz que foi forçado a deixar a Síria
16/12/2024
Ex-ditador também afirmou nesta segunda (16) que o país 'caiu nas mãos do terrorismo'.
Governo Assad, que durava 24 anos, foi derrubado no dia 8 por rebeldes do grupo HTS.
Presidente da Síria Bashar al-Assad, que governa o país desde a morte de seu pai, em 2000.
JOSEPH EID / AFP
O ex-ditador Bashar al-Assad afirmou nesta segunda-feira (16) que foi forçado a deixar a Síria em meio a um "intenso" ataque de drones dos rebeldes.
Esta foi a primeira manifestação após a queda de seu governo, no início do mês.
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"A minha partida da Síria não foi planejada nem ocorreu nas horas finais das batalhas, como alguns afirmaram.
Pelo contrário, permaneci em Damasco, cumprindo minhas obrigações até as primeiras horas de 8 de dezembro.
Conforme as forças terroristas se infiltravam em Damasco, mudei-me para Latakia em coordenação com nossos aliados russos para supervisionar as operações de combate.
Ao chegar à base aérea [russa] de Hmeimim naquela manhã, ficou claro que nossas forças haviam se retirado completamente de todas as linhas de batalha e que as últimas posições haviam caído", disse Assad.
O governo de Assad, que estava há 24 anos no poder, caiu no último dia 8, quando rebeldes do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomaram a capital Damasco.
O ditador deixou o país em um avião russo e, segundo a Rússia, instruiu transição pacífica de poder.
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Assad afirmou ainda que "em nenhum momento considerou renunciar ou buscar refúgio" durante a ofensiva rebelde, e "nem tal proposta foi feita por qualquer indivíduo ou parte".
No entanto, o ex-ditador afirmou que quando chegou à base russa de Hmeimm percebeu "uma deterioração contínua da situação no campo de batalha", em que a própria base foi alvo de "intensos" ataques de drones.
Diante desse cenário e sem meios viáveis de sair da base, Moscou solicitou que o comando da base militar organizasse sua evacuação imediata para a Rússia na noite de domingo (8), segundo Assad.
Ele e sua família receberam asilo político, segundo o Kremlin.
O ex-ditador também afirmou que a Síria "caiu nas mãos do terrorismo" e que não havia se manifestado sobre o ocorrido até agora por conta de tentativas fracassadas de publicação do pronunciamento em veículos da mídia internacional.
Esse atraso e também o "sumiço" de Assad durante as últimas horas de seu governo foram atribuídos por ele a um "apagão total nas comunicações por razão de segurança".
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Queda da ditadura Assad
A queda do governo na Síria ocorreu cerca de dez dias após o início de uma ofensiva-surpresa do grupo rebelde HTS que começou em Aleppo, no norte do país, e rumou sul em direção à capital Damasco, tomando diversas cidades-chave sírias pelo caminho, como Hama e Homs.
A ofensiva rompeu uma paralisia na guerra civil na Síria, que era travada desde 2011 entre grupos rebeldes e o Exército de Assad.
Nos últimos quatro anos, a guerra parecia estar adormecida.
Após um período sangrento de confrontos, que deixaram cerca de 500 mil mortos e causaram um enorme êxodo de sírios, o ditador conseguiu manter o controle sobre a maior parte do território graças ao suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah.
Desde então, o ditador se mantinha no poder com apoio militar de aliados como a Rússia e o Irã.
No entanto, agora a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel.
O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.
Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.
Sírios se reúnem para comemorar fim do regime de Bashar Al-Assad em várias cidades do país
Um porta-voz do governo da Ucrânia disse que a escalada do conflito na Síria mostra que a Rússia não consegue lutar em duas guerras ao mesmo tempo.
Informações publicadas no sábado indicam que o Hezbollah e o regime iraniano estão retirando tropas que mantêm na Síria.
O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva ter sido lançada agora.
"Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país.
Aleppo, sendo a segunda maior cidade da Síria, é o primeiro destino que eles ocuparam."
Segundo o professor, o acirramento do conflito pode ter consequências em todo o Oriente Médio.
Se Assad cair, afirma ele, isso pode criar um vácuo de poder e escalar ainda mais as guerras que envolvem Israel, Hamas, Hezbollah e Irã.