O peso importa: associação da obesidade como doença é pouco conhecida
17/10/2024
Entendimento como questão que afeta saúde de maneira importante é fundamental para buscar ajuda médica e ter sucesso na jornada de perda de peso Cabeleireira destaca importância do peso como uma questão de saúde, não de estética.
Arquivo Pessoal
Qual a sua percepção sobre a obesidade? É muito comum associá-la a aparência, mas vai muito mais além.
Trata-se de uma doença crônica (de longa duração) e com causas variadas que pode afetar a saúde e influenciar na qualidade de vida, como dormir e se mover¹.
Entendê-la como tal fez foi fundamental para a cabeleireira Nádia Mendes Silva, 40 anos, de São Bernardo do Campo (São Paulo).
Mãe de quatro filhos, ela vive uma jornada de perda de peso que começou a partir da pandemia.
“Comecei a olhar (a obesidade) com um olhar totalmente diferente, como uma questão de saúde mesmo”, relata.
Extremamente magra na infância e adolescência, Nádia ficou feliz quando começou a ganhar os primeiros quilos já na vida adulta.
No entanto, com o passar dos anos, o peso foi aumentando, sobretudo quando desenvolveu diabetes gestacional em uma das gestações.
Quando buscou ajuda para a filha Amanda, também impactada pela obesidade, ela passou a entender o próprio excesso de peso como uma doença grave.
Outros sintomas, além do acúmulo excessivo de gordura corporal, começaram a aparecer.
“Cheguei num nível bem severo, comecei a perder a mobilidade, tinha dores no joelho, dormia mal e tinha dores de cabeça constantes”, conta.
IMC ajuda a identificar os riscos
O alerta também estava no resultado de um cálculo simples que todos podem fazer, chamado Índice de Massa Corporal (IMC)1 - a medida relaciona peso e altura para classificar se um adulto está abaixo do peso, com sobrepeso ou obesidade.
Ao chegar aos 111 quilos, com 1,58m, Nádia atingiu uma classificação que indicava obesidade de grau III (acima de 40kg/m²).
Mais que indicar um nível, o resultado tem um significado: em geral, quanto maior o IMC, maior o risco de desenvolver outras doenças crônicas relacionadas à obesidade, principalmente, diabetes tipo 2 e doenças do coração (desde pressão alta, passando pelo infarto e derrame), entre outras² .
Nesses casos, perder peso pode reduzir o risco de desenvolver essas complicações.
Nádia adotou alguns cuidados e chegou a perder peso, mas teve reganho.
Posteriormente, procurou ajuda profissional e passou a ter acompanhamento de endocrinologista, nutricionista e terapeuta, o que ela considera essencial, mas nem sempre consegue manter em razão dos custos.
Hoje, a cabeleireira está com 101kg e retomando uma jornada conjunta com a filha Amanda, de 10 anos, a quem sempre apresentou a importância do tratamento pelo viés da saúde e não da estética.
Os cuidados incluem acompanhamento médico, boa alimentação e prática de atividades físicas.
“Sempre fui uma pessoa muito ativa, trabalho, tenho quatro filhos.
Fui me sentindo uma pessoa que estava perdendo a minha vida para o peso.
Nunca foi sobre estética, não aguentava mais.
Tenho quatro filhos e preciso viver para ver meus filhos crescerem”, afirma.
59% da população pode estar com sobrepeso ou obesidade
Nádia foi diagnosticada, buscou cada vez mais informação e tem preocupação em tratar da doença, mas a realidade é diferente para muitos brasileiros impactados pela obesidade.
Apesar de a condição ser classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde, em muitos casos, a seriedade só é reconhecida quando aparecem complicações adicionais².
O endocrinologista João Salles, professor de Endocrinologia e Metabologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, faz um alerta.
Segundo ele, é preciso ficar atento não somente ao peso, mas à circunferência abdominal.
No sexo masculino, acima de 102cm já indica risco de complicações relacionadas à obesidade, enquanto 88cm é a medida limite para o sexo feminino.
“Essas pessoas devem procurar ajuda, independentemente do peso, simplesmente pela cintura aumentada.
O peso é mais um marcador de obesidade”, explica o médico, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e secretário da Federação Latino-Americana de Obesidade.
Pesquisa publicada em junho pelo Instituto Datafolha em parceria com a Novo Nordisk³ apontou que 59% da população pode ter sobrepeso ou obesidade.
No entanto, apenas 11% dos entrevistados afirmaram ter recebido um diagnóstico médico formal a respeito de seu estado de saúde.
“Essa diferença acontece porque, infelizmente, não temos no Brasil uma cultura de entender que a obesidade é uma doença.
As pessoas não entendem como doença, nem os médicos, nem a população, nem a sociedade”, lamenta.
Conforme a pesquisa, 67% dos entrevistados com IMC superior a 24,9 (que inclui indivíduos com sobrepeso e obesidade) expressam o desejo de perder peso.
O interesse, no entanto, não reflete em busca por ajuda, dada a baixa taxa de diagnósticos.
Ao buscar ajuda para perder peso, no entanto, o paciente começa a perceber mudanças não apenas nas medidas ou números da balança, mas também na qualidade de vida.
“Por muito tempo, a medicina se concentrou em tratar as consequências da obesidade.
Atualmente, temos abordagens médicas que tratam a causa.
O acesso a tratamentos abre um leque de oportunidades para a prevenção de doenças relacionadas à obesidade”, avalia Salles.
Ao reforçar a relação direta entre o peso e a saúde, o endocrinologista dá algumas recomendações para quem quer começar uma jornada de perda de peso.
Buscar orientação médica é o primeiro passo.
“A obesidade é uma doença, tem tratamento e o tratamento deverá ser contínuo, um tripé: medicamentos, reeducação alimentar e atividade física constante”, completa o médico.
Acesse o site Meu Peso, Minha Jornada, calcule seu IMC e encontre um médico especializado.
BR24OB00229
Referências
1.
Olivasdigital.
Como calcular o IMC? Entenda para que serve esse índice.
Garvey, W T et al, “American Association of Clinical Endocrinologists and American College of Endocrinology comprehensive clinical practice guidelines for medical care of patients with obesity.” Endocrine Practice 2016;22:1–203.
DOI:https://doi.org/10.4158/EP161365.GL
3.
Instituto Datafolha.
Pesquisa Meu Peso, Minha Jornada, realizada pela Novo Nordisk